Lembro-me de quando, na escola, aprendia sobre escrever. Textos, tipos, nomes, uma infinidade de saber. Gostava do que a professora ensinava, e as tarefas fazia. Formar frases, elaborar histórias, tantas formas existiam. Estrofes, por um bom tempo, foram as minhas preferidas, queria fazer poesia.
Mas com o tempo aquilo tudo foi ficando tão condicionado ao padrão. Frases precisavam de sujeitos, tempos, modos corretos… Aquela era a forma certa, o resto, não. Ativos e passivos, que hoje aplico mais em números do que em palavras. Presente, passado, e até pretérito, tanta coisa se falava. Não sei nem qual é o perfeito, quem me dera o mais que perfeito. Só sei que assim o tempo não sobrava, nem pra pensar na poesia, nem pra lembrar que eu rimava.
Até mesmo quando a tarefa era justamente rimar, regras eu precisava seguir. A segunda com a quarta linha, e no fim o que saía era qualquer ideia, menos a minha. Correção sobre correção, palavras substituídas, e já não era mais o que eu havia dito na primeira vez. Era o que a professora achava melhor, e eu pensava “porque ela mandou que eu fizesse, e antes não fez?”.
Claro que hoje eu entendo que seu trabalho era mostrar a regra aos aprendizes, mas o resultado final, parecia que nem era mais meu, como da flor ter tirado as raízes. Como buquês de flores mortas, que são estruturadas de forma que a sociedade ache conveniente, mas por dentro sem vida, não mais toca e nem sente. Queria brincar com as palavras, com os sentidos que elas remetem. Não apenas ao óbvio, mas ao que elas refletem. Não é preciso rima, para poetizar. Não é preciso regra, para encantar. É simplesmente fazer sentir, apenas tocar.
Queria poder rimar amor com elefante, e ainda assim ser impactante. Ainda assim, ser poesia, ser rima, seguindo o mesmo compasso. Hoje sei que posso, e faço. Eu comando o que escrevo. E digo tranquilamente, não só posso, devo. E como chamo isso? Não quero me deter a estrofes ou sentenças de rimas. Quero contar sem contenção, falar sem padrão e não perder a emoção.
Conto, crônica, prosa, poesia… Uniões antagônicas que podem se completar. Palavras dispostas de forma harmônica, seguindo a doce regra de tocar. Não sei classificar, prosa poética talvez, mas é difícil rotular. Poesia crônica! É assim que vou chamar. Se existe este termo eu não sei, mas acho que aí está uma maneira interessante para expressar.