Eterno brilho fugaz

ceuemar 1000

Há tanto que discorre
E o tempo parece que passa
Mas o relógio não corre
Se arrasta, se gasta
Nos gasta e desgasta
Por tudo que ocorre

Pelo que chegou
Pelo que brilhou
Lindo foi, marcou
Mas se foi, e nos deixou

Tanto se passou
Em tão pequenino tempo
Mas com tão grande amor
Que não sairá da lembrança
De quem sentiu seu calor

Para acalmar a dor
Fica a recordação
Da imagem pura e serena
Daquela face pequena
Que nos encheu de alegria
Trouxe união
E mais harmonia

Ainda virá a calmaria
Aos aflitos corações
Convertendo em boas energias
Nossas tristes emoções

Por tudo

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Há algum tempo atrás, eu vi uma mensagem de uma mãe para uma filha na internet. A mensagem era muito bonita, mas o que me chamou atenção foi a resposta da filha. Ela disse “mãe, te amo, muito obrigada por tudo!”. Também foi uma resposta bonita, que é basicamente o resumo da expressão de agradecimento e amor, mas fiquei pensando nessas palavras por um tempo.

“Obrigado por tudo”.  Nós, enquanto filhos, temos consciência de tudo isso pelo que agradecemos a nossas mães? – E enquanto falo das mães, incluo também pais, e aquelas pessoas que, independentemente de familiaridade, criam este mesmo tipo de vínculo com outros seres – Penso que não.

Mas não porque não queremos, pois não são poucas as vezes em que paramos para refletir sobre o empenho de quem nos cuidou desde nossos primeiros momentos neste mundo. Podemos até não pensar em cada detalhe no momento em que agradecemos por “tudo”, mas este é um agradecimento tão complexo, que acredito que até faltam palavras.

Todos nós, enquanto filhos, sabemos que essa tarefa não é fácil. E é por isso que agradecemos.

Sem nem ser mãe ainda, tento ter ideia da complexidade deste ato. Sei que alguma coisa mais forte acontece dentro da gente quando nos tornamos mães, que posso até pensar que entendo agora, mas esse sentimento mesmo, só vou conhecer quando for a hora. E é por esse sentimento que agradecemos.

Até mesmo quem já é mãe nunca vai saber, de fato, o que representou na vida de sua mãe, quando ela soube de sua chegada. No momento sua mãe tornou-se, definitivamente, mãe. Independente das circunstâncias, é um acontecimento único na vida de uma pessoa, e sempre acarreta mudanças. Sei que a vida de uma mãe nunca mais é a mesma depois que ela sabe da chegada de um filho. É por essa mudança que agradecemos.

Nós, filhos, nunca saberemos daqueles planos que elas precisaram deixar de lado, por conta de nossa chegada. Ou ainda, dos meses que passaram estudando ou trabalhando conosco em seus ventres, e também depois de nossa chegada, para garantir nosso sustento. Das noites que passaram em claro para nos acalmar, ou quando estavam com problemas, mas estes eram esquecidos para cuidar de nossas dores.

É por tudo isso que tentamos agradecer, na verdade.  E por causa disso entendo que um “eu te amo” de mãe, é repleto de vontade de abraçar, de cuidar, de dizer tantas coisas que, por sua vez, também não caberiam em palavras. Coisas que eu nem devo fazer ideia…

Entendo enfim, que um “obrigado por tudo” de um filho, é uma tentativa de retribuir esse sentimento que, de tão inexplicável, resumimos apenas assim, com “tudo”.

Uma história de vida

bobby
Comparação de fotos que meu irmão fez há um tempo atrás. A primeira, nos primeiros anos com o Bobby. A segunda, mais ou menos 10 anos depois. Olha só que amores! *—*

Eu era bem pequena quando o Bobby chegou aqui em casa. Eu tinha uns 6 anos de idade, mas tenho aquela imagem viva na minha memória como se eu tivesse uma fotografia desse momento, que posso rever quando eu quiser. Eu estava chegando da escola, e vocês podem imaginar minha felicidade ao olhar em direção ao quarto e ver, entre o vão da porta, aquela bolinha de pelos pretinha, caminhando em direção à mim. Eu não lembro se eu tinha vontade de ter um cãozinho, provavelmente sim, como toda criança, mas eu não estava esperando.

E é essa cena que eu tenho muito presente em minha mente: ele vindo até mim, com aqueles passinhos ligeiros que faziam barulho ao encostar as patinhas no piso, como continuou por toda a vida, inclusive. É um dos momentos mais felizes da minha infância que tenho lembrança. Eu nem podia acreditar que eu tinha um cachorrinho!

Bobby viveu conosco daquele momento em diante. Lembro de muitos momentos em que ele nos acompanhou. Enquanto o tempo passava, acabei nem percebendo, mas ele cresceu comigo. Porém, como o tempo dos cachorrinhos é diferente do nosso, percebi que aquele bebê que chegou aqui em casa, logo atingiu a adolescência, ainda na minha infância.

E como é característico da época, Bobby também teve seus tempos de rebeldia. Um poodle não costuma ser muito bravo, e é muito inteligente inclusive, mas Bobby aprendeu a morder, com cãezinhos menores da vizinhança e que não machucavam ninguém na verdade. Por morarmos em uma cidade do interior, ele podia viver livre na rua, brincando com seus amiguinhos. Uma pena que seu instinto o fizesse morder qualquer estranho que passasse na rua também. Essa mordida sim, era mais forte.

Bobby precisou ficar trancado no pátio, mas ele continuava animado e lhe dávamos o carinho que podíamos. Quando eu alcancei a adolescência, ele já era um adulto, um pouco cansado de brincadeiras, mas com a ternura de sempre nos olhos, era um companheiro. E alguns bons anos depois, ele já tinha maturidade suficiente para sair sozinho na rua novamente. Claro que ele sempre teve seus horários de passeio na coleira mesmo, e quando ele já tinha uns 10 anos de idade, passamos a soltá-lo sozinho.

Ele tinha seu horário de sair, dava sua voltinha e voltava pra casa, era acostumado. Começamos a perceber que Bobby ia longe, amigos comentavam que o viam por aí, ele era até conhecido já! E acho que nessa liberdade ele acabou comendo algo que não foi legal, ou indo à algum lugar onde infelizmente pegou carrapato. Fizemos o que tinha que fazer, levamos ao veterinário, demos remédios e tudo mais, mas ele continuava com suas voltinhas. Com isso ele foi ficando mais fraquinho, mas nessa época ainda não sabíamos a causa do problema. Até hoje não sabemos ao certo.

Sabíamos que ele estava velhinho, e a idade também o estava debilitando. Começamos a perceber que ele não escutava como antes, tinha dificuldade para enxergar e para comer, bem como acontece com uma pessoa mesmo. Nos seus últimos dias de vida, as idas ao veterinário eram bastante frequentes, e seus passeios aconteciam sempre com a ajuda de alguém.

Nunca vou me esquecer da dor no coração em vê-lo tropeçar por não enxergar, ou de termos que ajuda-lo a comer e fazer suas necessidades. Foram dias difíceis, tanto pra ele quando pra mim e minha família. E finalmente, como era pra ser, Bobby nos deixou ao meio dia de um sábado de primavera. Por volta de seus 15 anos de idade, há pouco mais de um ano atrás, enfim ele pôde descansar.

Essa não é uma história triste. É uma história de vida. Bobby foi um grande amigo que, como disse antes, hoje percebo que cresceu comigo e, devido ao seu tempo de vida, envelheceu antes de mim e me deixou grandes lembranças. As boas e as ruins construíram sua história e completaram a minha. ❤